sexta-feira, 30 de março de 2012

de Carlos Castaneda - importância alguma...

"Qualquer caminho é apenas um caminho e não constitui insulto algum - para si mesmo ou para os outros - abandoná-lo quando assim ordena o seu coração. (...) Olhe cada caminho com cuidado e atenção. Tente-o tantas vezes quantas julgar necessárias...

Então, faça a si mesmo e apenas a si mesmo uma pergunta: possui esse caminho um coração? Em caso afirmativo, o caminho é bom. Caso contrário, esse caminho não possui importância alguma."

de Charles Baudelaire

"Devemos andar sempre bêbados. Tudo se resume nisto: é a única solução. Para não sentires o tremendo fardo do Tempo que te despedaça os ombros e te verga para a terra, deves embriagar-te sem cessar. Mas com quê? Com vinho, com poesia ou com virtude, a teu gosto. Mas embriaga-te. E se alguma vez, nos degraus de um palácio, sobre as verdes ervas duma vala, na solidão morna do teu quarto, tu acordares com a embriaguez já atenuada ou desaparecida, pergunta ao vento, à onda, à estrela, à ave, ao relógio, a tudo o que canta, a tudo o que fala, pergunta-lhes que horas são: «São horas de te embriagares! Para não seres como os escravos martirizados do Tempo, embriaga-te, embriaga-te sem cessar! Com vinho, com poesia, ou com virtude, a teu gosto.»

Charles Baudelaire, Spleen de Paris, Relógio d’Água, Lisboa, 1991, p. 105

Jacques Lacan diz...

Como diz o psicanalista Jacques Lacan, na solidão, sente-se a lacuna, o vazio que os outros tentam preencher desesperadamente com o Eu. Este Eu, criado no mimetismo da infância, é uma "instância de desconhecimento, de ilusão, de alienação, sede do narcisismo. É o momento do Estádio do Espelho". Um Eu criado pelo nosso Imaginário, "juntamente com fenómenos como o amor, o ódio, a agressividade" (em Jacques Lacan - Wikipedia).

Ainda de acordo com Jacques Lacan, somos seres em angústia pela nossa ligação demasiado intensa, mimética com a mãe enquanto crianças. Somos, na verdade, o animal que passa mais tempo nesse estado de osmose depois de nascer. Por isso, mais tarde o apaixonado, numa regressão sublime, sente-se como uma criança que procura desesperadamente o olhar do ser amado. Sente-se desamparado procurando sempre o outro, o amor, a todo o momento. Num impulso biológico muito forte.

Desta forma, a solidão faz-nos sentir autênticamente a condição humana. Essa estranheza que, se vivida directamente e com aceitação, nos abre as portas da percepção de um novo mundo. Essa consciência de estar aqui como que abandonados, como hóspedes transitórios da Terra como dizia Heidegger, faz parte da nossa condição básica de humano que tentamos evitar no nosso quotidiano normalizado.


Essa consciência pode ser a fonte de uma vida mais profunda e intensa. A solidão assumida, muitas vezes rodeada de muitas solidariedades subterrâneas, pode-nos abrir para o mundo de uma forma fantástica. Podemos aceder a outras percepções que, enquanto mergulhados na euforia do social, tendemos a esquecer. O hinduísmo e o budismo (e os nossos místicos ocidentais como San Juan de la Cruz, Jesus, etc...) descrevem de forma admirável esse caminho pessoal de meditação.

MIguel Ruiz, Os quatro compromissos. O livro da filosofia tolteca.

"Compreendeu que as outras pessoas estavam sonhando, mas sem consciência, sem saber o que realmente eram. Não podiam vê-lo como eles mesmos porque havia um nevoeiro entre os espelhos. E essa parede era construída pela interpretação das imagens de luz – o Sonho dos seres humanos."

Alberto Caeiro

"Vive, dizes, no presente.

Vive só no presente.

Mas eu não quero o presente, quero a realidade. Quero as cousas que existem, não o tempo que as mede. O que é o presente? É uma cousa relativa ao passado e ao futuro. É uma cousa que existe em virtude de outras cousas existirem. Eu quero só a realidade, as cousas sem presente. Não quero incluir o tempo no meu esquema.

Não quero pensar nas cousas como presentes, quero pensar nelas como cousas.

Não quero separá-las de si-próprias, tratando-as por presentes. Eu nem por reais as devia tratar. Eu não as devia tratar por nada. Eu devia vê-las, apenas vê-las. Vê-las até não poder pensar nelas, vê-las sem tempo, nem espaço, ver podendo dispensar tudo menos o que se vê.

É esta a ciência de ver, que não é nenhuma."